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Artigos/Nova revisão invalida milhares de estudos sobre o cérebro
Nova revisão invalida milhares de estudos sobre o cérebro
Imagine que o Word da Microsoft, um dos editores de texto mais populares do mundo, contivesse uma falha de programação que gerasse uma letra onde os usuários teclassem espaço.
Suponha, também, que alguns digitadores estejam escrevendo às cegas, sem revisar aquilo que digitam. E que passaram 15 anos produzindo documentos com erratas e falsas letras ali onde deveria haver um espaço em branco. Isso foi o que aconteceu durante muitos anos na pesquisa sobre a atividade cerebral. Uma falha no software que lê as ressonâncias magnéticas da massa cinzenta põe em questão milhares de trabalhos científicos realizados neste século. Porque, além disso, segundo uma pesquisa que acaba de ser divulgada, muitos pesquisadores não foram rigorosos revisando e corrigindo seus resultados em busca de manchas.
A imagem por ressonância magnética (fMRI, na sigla em inglês) é o método mais amplamente utilizado para estudar o esforço que realizada uma determinada região do cérebro à qual se designa uma tarefa. A fMRI detecta quais zonas estão requerendo mais energia do fluxo sanguíneo graças ao oxigênio que ele transporta. O resultado são aqueles mapas em 3D da massa cinzenta com algumas áreas iluminadas. E os cientistas nos dizem: esta é a parte da sua cabeça que se ativa quando você come chocolate, quando pensa em Donald Trump, quando assiste a filmes tristes etc.
Agora, uma equipe de cientistas liderada por Anders Eklund revelou que muitas dessas zonas foram iluminadas por erro, por causa de uma falha do software e o pouco rigor de alguns de seus colegas. Em seu estudo, publicado na PNAS, eles reuniram 500 imagens do cérebro em repouso, que são as utilizadas como ponto de partida para ver se, a partir daí, o cérebro faz alguma coisa. Usaram os programas mais comuns para fazer três milhões de leituras desses cérebros em repouso. Esperavam encontrar 5% de falsos positivos, mas, em alguns casos, dependendo dos parâmetros adotados, eles se depararam com até 70% de situações em que o programa iluminava uma área onde nada acontecia.
Esses programas dividem o cérebro humano em 100.000 voxels, que são como os pixels de uma fotografia na sua versão tridimensional. O software interpreta os sinais da ressonância magnética e aponta em quais haveria uma atividade, a partir de um ponto que, em muitos casos, foi menos preciso do que deveria, propiciando falsos positivos. Além disso, os autores da revisão analisaram 241 estudos e descobriram que em 40% deles não foram aplicadas as correções de software necessárias para dar garantias, agravando o problema dos falsos positivos.